O Yin, O Yang e a ponte do rio Big

por Akrura Bogéa

Essa história é muito antiga, da mesma época em que se podia ver a lua e o sol passeando pelo céu de mãos dadas. As trevas e a luz eram inseparáveis. Deus e os homens eram um e a mesma coisa. Nessa época O Tao (que significa caminho) era o Rei soberano do Universo. O Tao reunia todos os opostos e oposições que vemos separados hoje em dia. Nesse período da história não havia dualidades, os cachorros amavam os gatos, os gatos amavam os ratos, os ratos não temiam às águias ou cobras e assim por diante. A terra era mesmo um paraíso, já que o céu e a terra não se diferenciavam. Tudo em volta era virtude. O Tao, criou um jardim a terra, para os seus filhos brincarem.

O Tao tinha dois filhos que eram irmãos gêmeos o Yang e o Yin, que se tratavam com respeito, carinho, amizade e amor incondicional de verdade. Eram tão unidos que nunca tinham brigado, nem mesmo sabiam o que era uma pequena discussão. Nesse paraíso terreno, nasceu uma flor cuja beleza não pode ser descrita, com uma fragrância que a tudo e a todos encantava.

A deusa Desejo, que era a mais bela de todas, de todos os tempos. Por onde passava, todos ficavam muito apaixonados e perturbados com a sua beleza, as árvores se curvavam para reverenciá-la e até mesmo as pedras suspiravam. Então, a bela Desejo toma conhecimento dos irmãos Yin e Yang que mantém tudo em unicidade. Por capricho, resolve separá-los. Os dois irmãos viviam muito felizes às margens do rio Big, onde brincavam e contemplavam a natureza, o movimento dos animais, o voo dos pássaros, a dança das estrelas, árvores ao vento e os peixes coloridos que saltavam para se exibirem para eles.

Quando a bela Desejo chegou no rio big, os irmãos Yin e Yang, não conseguiram disfarçar nem um pouco o interesse diante de tanta beleza. Naturalmente e imediatamente pediram a mão da bela Desejo em casamento. A jovem sorriu como se fosse inocente, pura e disse:

-Fico muito lisonjeada com o pedido de vocês, já que gostei muito dos dois. Porém sou monogâmica e só posso me casar com um, casar com dois vai contra meus princípios e educação. Os irmãos se surpreenderam, já que nunca tinham brigado ou discutido por nada.

-Como? Case-se com nós dois, se casar com um de nós provocará um rompimento, não vamos disputar você como se fosse um troféu, disse Yin.

-Fale por você, eu quero a Desejo de qualquer jeito, não importa o quanto isso possa me custar, eu a quero muito e pronto. Emendou Yang.

Fez-se silêncio. Uma certa tensão, tomou conta do ar e do mundo inteiro. E agora? Pela primeira vez os irmãos Yin e Yang discordaram. Eles não sabiam que a Deusa Desejo, significa expectativa, frustração, separação, rompimento, cisão, corte, fragmentação.

-Quero que vocês lutem por mim. O que sobreviver, será o meu escolhido. Disse Desejo com uma certa autoridade e arrogância.

O irmão Yin observou e foi aí que viu o que estava acontecendo. Ele não podia lutar com seu irmão, ainda que essa decisão pudesse parecer covardia. Ele bem sabia o que significava sobreviver. Ao final da luta, um dos dois poderia estar morto.

-Sendo assim, disse Yin muito triste e contrariado; não vou brigar ou discutir com meu irmão. O objetivo da Desejo é nos separar, se meu irmão estiver de acordo, irei para a outra margem do rio Big. No que Yang concordou prontamente.

-A proposta de Yin me facilita muito, já escolhi! Interveio Desejo com um certo ar de satisfação. Já que temos um covarde no campo de batalha, que acaba de abrir mão de lutar por mim, ficarei com o Yang, por toda a eternidade.

Desejo hipnotizou os dois irmãos com os seus lindos olhos, arrancou o olho direito do Yin e o olho esquerdo do Yang. Jogou uma maldição nos irmãos, que eles sentiriam falta um do outro por toda a eternidade.

-A partir de hoje, vocês estarão separados, buscarão um pelo outro, sem nunca mais poderem se reunir novamente.

-Que mania que os seres humanos têm de achar que a perfeição é um lugar, um estado, uma meta. Se assim fosse Lúcifer não teria caído nas trevas, Adão e Eva ainda estariam no Paraíso. A Perfeição é um caminho, uma busca impossível de ser alcançada. Assim é. Disse a Deusa e partiu deixando os dois irmãos desolados separados.

Nesse momento, aconteceu o grande fenômeno da separação. A luz separou-se das trevas, A vida que era eterna, separou-se da morte, (sempre que a morte chega a vida se esvai, já não está mais lá), o belo separou-se do feio, o quente do frio, o interno do externo, o doce do salgado, a fé da dúvida, a verdade da mentira, o perto do distante, o ativo do passivo, a montanha do vale, o verão separou-se do inverno, o calor do frio, o amor separou-se do ódio, a admiração da inveja, o sol separou-se da lua, o dia separou-se da noite, o frio do calor, o céu da terra e finalmente o homem separou-se de Deus. Todas as oposições e contrastes que existem no mundo, foram criados pela deusa Desejo, Que colocou o seu irmão; o Ego no trono da separação, no reinado dos fragmentos. Por Desejo, todos se apaixonam e ela não se apaixona por ninguém.

Quem entra em contato com essa deusa, sai ferido e fertilizado com duas sementes, uma semente que busca a realização e a outra que floresce na  frustração. Estas sementes se nutrem uma da outra, por isso só uma delas germina. Poucas vezes a semente da realização é a mais forte, na maioria das vezes quem vence é a semente da frustração.

Desejo tem poderes sobrenaturais, hipnotiza, encanta, voa como os pássaros, nada como os peixes, canta como as sereias enlouquecendo pescadores, navegantes e marinheiros, por onde passa todos são possuídos por ela. Construiu a primeira ponte, unindo as margens direita e esquerda do rio Big. O rio Big, atravessa o universo e nos separa de nossas metas, separa o humano do divino. O próprio universo foi afetado pela energia da poderosa deusa Desejo, já que ele se expande e se contrai ao longo dos milênios, quem sabe, em busca de poder absoluto, impossível de encontrar.

Quando Yang estava perdidamente apaixonado por Desejo, ela o abandonou. Partiu seu coração, deixando em seu lugar, a dor, a tristeza, o sofrimento e um imenso vazio que até hoje Yang não consegue preencher.

Frustrações são as pegadas do pé direito da deusa, realizações temporárias as pegadas do pé esquerdo que a bela Desejo deixa, por onde passa..Ficou um imenso sem sentido no coração de Yang. Lembrou-se do irmão com o qual ele não podia mais contar e se reunir. A tristeza e a saudade machucavam a alma de Yang e a alma de Yin, que passaram a ter como meta, buscarem-se mutuamente, gerando uma energia de plenitude e de vazio, que dá movimento a tudo e a todos os seres existentes.

A linda ponte construída por desejo, simboliza a possibilidade de união daqueles que se amam e que por encantamento, por ignorância, maldição ignorância ou circunstancias, são obrigados a viver separados.

FIM.

Despertando a sua alma em três dias

Por Akrura Bogéa

-Kotakinabalu, Malaysia, 30.01.2020.

concentracao na montanha e ceu

 

Quero lhes apresentar o nosso personagem, da história que se segue: Yerananda nasceu numa família um pouco diferente do convencional. Seus pais meditavam, eram vegetarianos, gostavam de música, especialmente de mantras e seguiam as orientações espirituais de um mestre da Índia. Seus pais tentaram lhe passar o que aprendiam no seu caminho espiritual… que todas as religiões devem ser respeitadas, que as pessoas todas, por mais estranhas que possam parecer, são buscadoras de uma conexão com o Ser, que este Ser está dentro de cada um de nós e que o nosso progresso espiritual ou elevação da nossa consciência é responsabilidade de cada um de nós e que não pode ser delegada. Ensinaram alguns mantras sagrados, orações, exercícios de concentração, respiração e técnicas de meditação. Levaram inclusive Yerananda à presença do Mestre deles, quando este ainda era uma criança.

O tempo foi passando, Yerananda foi crescendo, perspicaz, estudioso, inteligente. Percebeu que aquele caminho espiritual não atendia às suas expectativas e necessidades. Já nos primeiros dias da adolescência, descobriu os “prazeres” da vida. Então, Yerananda se sentiu livre para buscar e questionar as religiões vigentes, inclusive o caminho espiritual dos seus pais. Acreditava piamente que a religião era uma fraqueza da humanidade, e que essa fraqueza dava margens para manipulações através de interpretações das escrituras sagradas, por pessoas inescrupulosas e sedentas pelo poder econômico-financeiro. Via que as igrejas e templos “sagrados” proliferavam em todo lugar, cada vez mais aumentava a população que carregava suas respectivas bíblias debaixo do braço.

-Carregar a bíblia até eu, quero ver é praticar o que está escrito. Brincava Yerananda.  As questões metafísicas, estavam sempre presentes, desde sempre. O jovem costumava  se perguntar;  se Deus criou o homem ou se o homem criou Deus? De  onde viemos? Para onde iremos depois que morremos? A morte é o fim? O que veio antes a mente ou a matéria? E outras tantas indagações semelhantes difíceis de serem respondidas.

No início da sua adolescência, Yerananda começa a experimentar terríveis pesadelos e terrores noturnos, que o incomodaram por muito tempo. Sonhava com ondas gigantes querendo afogá-lo, (como se o seu inconsciente quisesse afogar o seu consciente), sonhava com terremotos sacudindo a terra, com guerras, aviões caindo, incêndios, tufões e outros tipos de catástrofes. Yerananda era um leitor voraz, sua curiosidade era insaciável. Estudou e graduou-se em economia, fez seu mestrado, seu doutorado, e começou a ganhar a vida como gerente de um dos maiores bancos privados do seu País. Yerananda foi escalado para administrar o patrimônio dos proprietários da grande instituição. Impressionava-se com o montante e com a facilidade para multiplicar tal patrimônio. Quase que em progressão geométrica, o jovem gerente tinha informações privilegiadas e não podia trabalhar para outras instituições financeiras, almoçava com diretorias do Banco Central, não tinha horário a cumprir e ganhava 18 salários invejáveis por ano. Aparentemente sua vida estava ganha, tirava 45 dias de férias por ano a seu bel prazer, fora as emendas de feriados, viajava quando queria e morava num excelente hotel, perto da instituição financeira onde trabalhava. Nessa época bebia álcool em excesso, e tinha muitos “amigos”. Dá para entender que a espiritualidade era a última coisa a ser considerada nessa fase?

 

O afogamento ou o primeiro chamado.

Em 04 de dezembro de 1981, foi a comemoração do aniversário de 27 anos de Yerananda. Depois de oferecer uma grande festa aos amigos, com muito álcool e outras drogas proibidas, Yerananda resolve ficar um pouco sozinho, escolhendo uma praia deserta e paradisíaca, para fazer um balanço de sua vida.  Pensa nos seus bens…seu carro conversível, sua moto potente, imóvel quitado, seu saldo em conta-corrente, investimentos, suas conquistas materiais, suas viagens…sorri e se sente um vencedor?

-Não. Sente um vazio e uma pergunta que não quer calar. E daí? -Muito esforço! Mas valeu a pena? -Não. Conclui Yerananda observando o mar que, como se diz, não estava para peixe. Muito bravo, com ondas gigantes, em ressaca total. Nosso personagem era um exímio nadador, nasceu num lugar sossegado, banhado por dois rios, tocantins e itacaiunas, com várias travessias de ambos no seu currículo.

-Por que não? Pensou Yerananda. Entrou no mar, e sentiu até uma certa facilidade, o mar revolto parecia convidá-lo a entrar mais e mais, dia perfeito, banho perfeito. Satisfeito, Yerananda resolve sair do mar, as margens parecem distantes, e o mar não lhe oferece facilidades, nem condições para sair, as ondas começam a aumentar de tamanho e quebram como se fosse um prédio em demolição na cabeça de Yerananda. Quando as ondas caem sobre ele, ele perde a noção total de direção, e tenta buscar a claridade como única estratégia de sobrevivência, luta como um bravo guerreiro contra aquele mar que quer matá-lo, Yerananda tem quase certeza de que não sairá do mar vivo. As suas forças e resistência, se esgotam completamente, o trapézio absurdamente duro, tenso e os braços sem força nenhuma. Yerananda não tem a quem recorrer, é ateu convicto e não acredita em nada, se entrega à morte, passa um filme de sua vida insignificante, e ali ele tem certeza que é o fim da linha, o fim do jogo. Vê uma luz azul clara e brilhante tomando conta de tudo, começa até a sentir um certo prazer, diante da luz. Experimenta uma sensação de paz, constata que morrer não é tão ruim quanto ele pensava. Nesse exato momento de sua passagem iminente, vem uma onda gigante e o transporta na sua crista até a praia, a uns dois metros depois da margem, o jovem ofega, vomita muita água, ingerida durante o afogamento. E faz a sua primeira pergunta significativa:

-Por que estou querendo me matar? Senta-se com dificuldade, seu calção está cheio de areia, então Yerananda percebe, que de fato entrar naquele mar diante dele foi um projeto suicida. Fracassou, não foi bem-sucedido.

 

A busca

A partir do afogamento Yerananda dá uma guinada na sua vida, não tem dúvidas, está disposto a investir no seu autoconhecimento, na sua busca interior, só não sabe ainda por onde começar. Olhava em volta e não via nenhum caminho espiritual, com o qual simpatizasse. Talvez uma terapia, fazer Yoga, possa ser um começo. Pensou.

Volto a sinalizar que era muito difícil para ele compreender a necessidade das pessoas de terem uma religião, que apontava para um Deus mais que assoberbado, já que todos lhe pediam tudo. Saúde, alegria, felicidade, fortuna, casamento, filhos e principalmente uma infinidade de futilidades, estas últimas principalmente. Yerananda leu no trecho de um livro que de certa maneira reforçava a sua desconfiança: “No mundo sacerdotal, os pastores de ovelhas não passavam de pessoas comuns, que saciam-se com as letras (ou com o sentido exterior, superficial) das sagradas escrituras, e não podendo preencher o seu verdadeiro sentido interior, acham grande deleite em controvérsias técnicas a respeito dos textos, em definições obtusas e interpretações rasas.”

Dizia ainda “que os corações desses pastores de ovelhas, estavam cheios de desejos e esperanças pessoais; o mais alto ideal desses homens é alcançar um céu onde encontram todos os objetos de seus prazeres, a satisfação dos seus sensualismos sem nunca sequer tentar uma elevação à altura de onde é possível perceber a união de todos os seres. Usam palavras floreadas, inventam várias cerimônias e nunca esquecem de prometer os prêmios que serão conquistados por aqueles que observam seus ensinamentos e contribuições financeiras. Claro que para aqueles que discordam deles, só lhes resta um inferno monstruoso e assustador.” Yerananda ainda se dizia ateu, mas agora, de alguma maneira, sentia a necessidade de uma busca espiritual. Ainda de uma maneira solitária e a seu próprio modo, acreditando que as coisas não estavam desconectadas como muitos acreditavam. A onda que lhe salvou do afogamento, causou um grande impacto nessas mudanças.

 

Primeira noite do despertar de Yerananda

Certa noite, para variar, Yerananda teve um sonho diferente dos pesadelos costumeiros. O seu sonho parecia muito real. Sonhou que estava dentro de uma caverna cheia de cristais e ao seu lado estava uma pessoa que o físico e a aparência eram exatamente igual a ele, uma réplica, só que mais pura e mais luminosa. Este sábio o guiava através do seu belo sonho, respondendo às suas indagações. Yerananda fica encantado com a caverna de cristais! Ele podia tocá-los, já que os cristais estavam ao alcance de suas mãos. Tocou de leve num dos cristais e imediatamente se viu num campo de batalhas sangrenta bem no meio do exército espartano, era um soldado comum, sem fama e sem patentes. Tirou a mão do cristal muito assustado e perguntou à sua réplica;

-O que foi isso? O que aconteceu comigo?

A réplica pacientemente lhe explica que cada cristal daqueles registra uma das vidas pregressas de Yerananda. Só que a caverna em questão tem milhares de cristais!

-Espere, você quer dizer que cada cristal desses registra uma encarnação minha? Indagou Yerananda , rindo e incrédulo.

-Sim. Concorda a réplica luminosa. Essa é uma espécie de caverna de memórias de suas vidas passadas e como você bem pode ver, são milhares de vidas. Todo e cada ser humano tem a sua caverna de cristais de memórias. Sorriu a réplica.

-Não entendo… para que tantas vidas? Uma só já não é o suficiente? Pergunta-se Yerananda atônito.

-Às vezes sim, às vezes não. A vida promove relações, atritos, encontros, desencontros, desejos, realizações, frustrações, muito mais frustrações que realizações e uma infinidade de experiências. Tudo o que fica pendente ou em aberto, gera um karma para a vida seguinte. O que você chama de vida, é um breve espaço de tempo que é relativo, em que a alma reside num determinado corpo, para experimentar as coisas terrenas. Depois a alma precisa respirar, descansar, já que as experiências terrenas são muito intensas e geram muitos apegos. A alma mesmo, a rigor, tem apenas uma vida, sem início e sem fim. Disse a réplica.

Yerananda era um pensador nato. Precisava usar as suas ferramentas para elaborar isso que acabara de ouvir. Passado algum tempo Yerananda resolveu tocar em outro cristal. Desta vez se viu montado em um cavalo negro, numa paisagem europeia, com vários amigos, numa caçada ofegante, seu cavalo em disparada, resfolegava, tropeçava e saltava os obstáculos que apareciam à sua frente. Os cães corriam em alta velocidade com as suas línguas para fora, perseguindo um javali, que fugia como podia. Aquilo era tão real, ficou tão intenso e insuportável, que Yerananda afasta a sua mão do cristal e leva um certo tempo para acalmar a sua respiração e os seus batimentos cardíacos.

-Uau! Tive outra experiência. Diz Yerananda transtornado.

-Eu sei, diz a réplica rindo…  Providenciando o seu almoço? Caçando num campo europeu, com seus amigos aristocratas não é mesmo? Perseguindo um javali?

Como é que você sabe disso? Interrompe Yerananda. Quer dizer que você viu tudo o que aconteceu enquanto eu segurei o cristal?

-Mais que isso! Não só vi, como vivi cada experiência de cada cristal desses com você. Disse a réplica. Eu sou a sua cópia fiel, que fica do outro lado do véu, todo esse tempo tento chamar a sua atenção, buscando um contato com você.

-Ei… Isso que você está dizendo é muito sério… me causa desconforto, na verdade me assusta… que paciência… você não tem mais o que fazer não? Indaga Yerananda rindo.

-Responda você! Devolve a réplica.

O jovem Yerananda põe-se a refletir novamente, supondo que aquele ser é o que as pessoas religiosas chamam de anjo da guarda, embora sem asas, ou uma espécie de guarda-costas, que te acompanha e supostamente te protege, onde quer que você vá… Yerananda não faz ideia do que é a verdade.

-Meu querido sósia!… e essa história da alma, sem início, sem meio e sem fim, que você mencionou anteriormente, como funciona? Onde ela está agora? Já que não sinto à sua presença e nem ela faz qualquer contato comigo? Quer saber Yerananda.

-Bem, alma sem meio é por sua conta, eu disse sem início e sem fim ou sem nascimento e sem morte se você preferir.

-Isso é uma pergunta difícil, uma história mais longa, diz o ser luminoso, sorrindo. Não posso falar sobre isso agora, já que o seu despertador vai tocar. Ao despertar, sugiro que você prometa a si mesmo, que será a melhor pessoa nesse dia que se inicia, e que terá o melhor dia da sua vida. Antes de dormir hoje a noite, peça simplesmente para sonhar comigo, se assim o desejar. E continuaremos nossa viagem no mundo interior e onírico. Orientou a réplica luminosa sorrindo.

Toca o despertador, Yerananda percebe que tivera um sonho, um sonho significativo, espiritual, tão real, que ele demora a levantar, mais que de costume.

-Já é alguma coisa. Pensa e pensa no sonho, no seu significado, no que ele pode acrescentar, lembra-se da sugestão do ser luminoso, promete que vai tentar ser a melhor pessoa possível nesse dia que se inicia e que esse será o melhor dia de sua vida. Levanta  sentindo-se diferente, renovado, cheio de energia, sente-se muito bem, alegre, com uma felicidade genuína, que aflora do âmago do seu coração e com a mente totalmente pilhada, quase pode sentir as novas conexões sinápticas em tempo real, bem diferente do que quando fora dormir na noite anterior, embora muito mais reflexivo. Yerananda percebeu que aquele dia foi singular, diferenciado, muito especial, uma vez que ele se sentia em conexão com a réplica luminosa com que sonhara na noite anterior e não via a hora de encontrá-la novamente na próxima noite, torcendo para que houvesse uma continuidade no próximo sonho. -Seria isso possível? Duvidava o jovem gerente, que naquele dia nem pensou em trabalhar e ali estava decidido a pedir demissão assim que possível, da grande casa bancária onde trabalhava.

 

A alma adormecida de Yerananda (2a noite)

Yerananda faz o pedido para sonhar com a sua réplica, conforme orientado na noite anterior. Mal pega no sono, se vê numa trilha no alto de uma montanha. A paisagem é incomum, com um céu bem azul e luminoso, muitos pássaros chilreando, uma infinidade de borboletas azuis, libélulas, o jovem observa os pequenos regatos que escorrem sem pressa entre as árvores da floresta, segue numa trilha com as bordas decoradas por flores exóticas quando não mais que de repente, Yerananda se vê na entrada de uma caverna de cal. Tudo em volta era branco, com algumas partículas de cal flutuando no ar. Viu sua réplica luminosa esperando e não conseguiu disfarçar a felicidade que sentia.

-Então, qual vai ser a viagem de hoje? Pergunta Yerananda.

-A viagem de hoje será a continuação da viagem de ontem. Diz a réplica.

-Você me perguntou sobre a sua alma, lembra?  -Sim. confirma Yerananda.

A sua réplica, o segura firme pela mão, levando-o para o fundo da caverna, onde se encontrava mais uma réplica de Yerananda, toda coberta de cal.

-Ei! Mas o que é isso? Mais um de nós? Uma estátua de cal? Quer saber Yerananda, atônito.

-Quero lhe apresentar a sua alma, diz a réplica, apontando para a estátua inerte. Sim, ela é e não é mais um de nós. Sorriu a réplica luminosa.

-Como assim? Minha alma é só uma escultura de cal? Por essa eu não esperava! Não me leve a mal, mas achei que ela seria uma partícula de Deus, um piloto interior, uma imortal com os atributos de Deus, onipresença, onipotência, onisciência, essas coisas. E agora é isso? Decepciona-se Yerananda.

-Vê-se que você não é tão ateu assim. Disse a réplica rindo. A alma humana é tudo isso que você falou com os atributos divinos e muito mais! Complementou. Proponho que você a desperte. Ela está dormindo e inativa, já que há muito tempo você não dá a mínima para ela. A alma se alimenta de orações, mantras, meditações, bons pensamentos, boas ações, serviço desinteressado e conexões, principalmente.

-Todos pratos raros! Brinca o jovem para descontrair-se.

Eis aí um sábio adormecido. Continua a réplica luminosa. Mesmo adormecido e supostamente inativo, ainda assim, sabe o que se passa no mundo  exterior onde o ser humano fica a maior parte do tempo e sabe tudo sobre o mundo interior, que é o mundo espiritual. Esse é o seu melhor instrumento de conexão, o seu sábio, seu mestre, seu guru e seu piloto interior. Me despeço, já que você não vai mais precisar de mim, por enquanto. Quando você despertar a sua alma, voltarei através da sua percepção. Desperte sua alma e você terá tudo ao seu alcance, inclusive a mim.

-Espere, não faça isso! Como assim? Você não pode   ir embora assim. Desespera-se Yerananda. Você propõe que eu desperte a minha estátua de cal, quer dizer, a minha alma, mas eu não faço ideia de como fazer isso. Choraminga Yerananda, já sentindo falta da presença de sua réplica, a qual se apegara.

-É muito fácil e ao mesmo tempo muito difícil, e sim, você sabe como despertá-la. Talvez você tenha esquecido. Gostaria muito de poder ajudá-lo mais. Mas não posso. Isso é um caminho solitário, uma experiência que pertence só a você. Acho que ninguém poderá ajudá-lo. Vim até você para promover esse encontro entre você e a sua alma, minha missão está cumprida. Despertá-la, cabe a você. Como já disse anteriormente, você sabe como fazê-lo, pois essa é a sua meta, a missão de vida de todos os seres humanos e por muitos esquecida. Você saberá quando ela estiver desperta, sentirá a nossa presença, eu sou aquele que não vai a nenhum lugar e que está em todos os lugares ao mesmo tempo. Quando você desperta sua alma, é impossível questionar sobre a sua existência. Dito isso, a réplica luminosa de Yerananda desaparece.

Yerananda sente-se só, desamparado, esquecido e abandonado, como jamais se sentira, ali diante da escultura de cal, que supostamente era a sua alma adormecida.

-E agora? -perguntava-se sem nenhum vestígio de resposta.

Yerananda sai da caverna e revê a linda paisagem em volta, e percebeu nuances e detalhes que não percebera, quando andou em direção a caverna. O despertador toca.

 

Ele sentiu-se diferente, com o peso de uma terrível pendência, que era despertar a sua alma. Lembrou do que a réplica lhe dissera no seu sonho sobre karma e entendeu ali que essa pendência iria trazê-lo de volta à vida, tantas e quantas vezes fosse necessário, até que a sua alma despertasse.

Decide ir até a instituição financeira, onde até pouco tempo apreciava trabalhar e formaliza o seu pedido de demissão. Agora nada daquilo fazia sentido na sua vida. O banco lhe oferece mais dinheiro, melhores condições, pede para ele pensar por mais um tempo, mas Yerananda estava decidido. Aquele tipo de trabalho não fazia mais sentido. Ele tinha vislumbrado a ponta do Iceberg do mundo interior, estava encantado e não queria abrir mão da sua busca.

 

3a. noite Yerananda tenta orar, recitar poemas e mantras espirituais.

 

Yerananda repetiu todo o ritual antes de dormir, para voltar à caverna onde se encontrava a sua alma coberta de cal. Viu-se numa praia paradisíaca e deserta, o mar parecia uma lagoa, calma, tranquila e as gaivotas flutuavam. Bem diferente do mar que quase o afogara. Caminhou tranquilo na certeza de que encontraria o que estava buscando. Não demorou muito e Yerananda avistou a caverna, entrou, e lá estava a sua alma, coberta de cal. O jovem olhou fixamente para a sua alma inerte, lembrou dos seus pais e das ”esquisitices”, tipo, cantar o Gayatri mantra até a exaustão. Será que isso despertaria a sua alma? Orar, recitar poemas espirituais, respirar profundo, meditar, correr, era isso que os pais de Yerananda faziam e pareciam tranquilos. -Vamos ás práticas, tenta lembrar de alguma oração sem sucesso, respira lento profundo e tenta lembrar de algum mantra, lhe vem á cabeça um mantra que os Hare Krishna entoavam no centro da cidade, entre danças, venda de livros e incensos.

-Hare Krishna, Hare Krishna

Krishna, Krishna, Hare, Hare

Hare Rama, Hare Rama

Rama, Rama, Hare, Hare…

Repetiu e repetiu à exaustão, único mantra que conseguiu lembrar.

Nesse ponto, Yerananda percebe que uma parte do pó escorregava da estátua para o chão.

-Espere, se está funcionando, vou tentar o Gayatri mantra, desse acho que me lembro:

Aum bhur bhuvah svah

Tat sa vitur varenyam

Bhargo…deva…beva…leva..hummmm…Yerananda esqueceu a segunda parte do mantra, porém ele percebe que a sua alma apreciou, já que escorreu mais cal do corpo da estátua para o chão da caverna. O jovem respira lento e profundo, tentando acalmar a sua euforia, que era grande. Teria ele encontrado o caminho do despertar da sua alma? Concentrou-se um pouco, tentou uma meditação ainda que incipiente, e quando abriu os olhos, viu que sua alma estava mais limpa. Viu que por baixo do cal havia alguns pontos de luz dourada, que emanavam do corpo da estátua. Yerananda abriu um sorriso de satisfação, e diz para si mesmo:

-Acho que estou no caminho certo. O despertador toca e Yerananda acorda.

Senta-se em silêncio na sua cama, fica meditando por vinte minutos aproximadamente, pega seu caderno de anotações e escreve alguns haikais e aforismos.

 

Reencarnação

Nos dá uma nova chance

Para a evolução.

 

Não preciso morrer

Para ter acesso à evolução espiritual.

 

O medo cria hipocondríacos

Que morrem de medo de adoecerem

Mesmo já estando doentes.

 

Conhecer-se não está a alcance de todos

Exige muito amor treinamento e dedicação

 

O ser humano é um planeta

Que tem uma parte formada por luz

E outra parte por sombras.

 

Para conhecer-se devemos observar a conduta dos outros. Para conhecer os demais devemos olhar para o nosso próprio coração.

 

Vivemos igual a um peixe

Que nada sabe sobre a água

Onde nada por toda a sua vida.

 

Nada sabemos sobre a alma

Que hospedamos no nosso corpo a vida toda.

 

A sabedoria ignora respostas

E aprecia as perguntas.

 

O cérebro é uma ferramenta de sobrevivência

A memória é a inteligência dos estúpidos.

 

Jogue no chão seu passado

Expectativas de futuro

Descarte suas respostas

Viaje leve, vazio, para que algo significativo

O preencha completamente.

 

A eternidade não vive no passado

Jamais chega no futuro

Ela cabe inteiramente no presente.

 

-Hoje tenho que me preparar para logo mais à noite. Propõe-se Yerananda, vai atrás do Gayatri Mantra e o    entoa por centenas de vezes. lê um bom livro sobre   técnicas de meditação. Vai para as obrigações do seu dia a dia e ao cair da noite, Yerananda vai dormir cedo e bem mais preparado para despertar a sua alma do que na noite anterior.

O despertar da alma de Yerananda (4a.  noite)

Yerananda, sonha que está numa linda gruta, com os  cristais Karmicos incrustados, um regato cristalino, e sua alma, meio luminosa e meio encoberta por um cal remanescente. Yerananda tenta lavar a estátua e nada acontece. A água não molha a camada de cal remanescente na estátua. “A alma não molha, não queima, não morre.” Lembrou de ter lido isso em algum lugar. Yerananda, conecta-se repentinamente, com as práticas da noite anterior que deram algum resultado. Senta-se diante da estátua, que permanecia coberta pelo cal, com mais pontos luminosos, de onde o cal tinha se desprendido.  fecha os olhos e entoa o Gayatri mantra dos Upanishads por 108 vezes:

Aum bhur bhu vah suah

Nós meditamos na glória transcendental

Tat as vitur varenyam

No deleite Supremo que está dentro do coração

Bhargo devasya dhimahi

Da terra, do céu e dentro da alma do paraíso

Dhiyo nah praco dayat.

Que ela possa estimular e iluminar as nossas mentes.

 

Yerananda respira lento e profundo, por algum tempo, mergulha na meditação, sem medo de ser feliz. Quando volta a si, está num estado de consciência elevado e alteradíssimo. Abre os olhos e percebe que em volta tudo está perfeito. Sai da caverna, com a mente vazia, relaxado e o coração em paz, paz genuína. As cores estão mais nítidas, tudo tão harmônico, tão pacífico, os pássaros parecem mais felizes, seus cantos mais bonitos, milhares de flores com cores mais vibrantes, o ar parece muito mais puro, uma experiência única, como jamais antes experimentara.

-A estátua! Não me lembro de tê-la visto quando voltei da meditação, constata Yerananda, -cadê ela? Levanta-se procurando, e nada. Procura e procura em todos os lugares possíveis e nada. Só faltava essa, eu perder a minha alma depois de tudo isso.

-Onde está você? Grita Yerananda, entra e sai da caverna procurando manter o controle, não poderia perdê-la novamente, logo agora que a encontrara, ainda que coberta de cal. Ele a queria muito de volta.

-Você está procurando por mim no lugar errado. Ouviu Yerananda, a voz suave e melódica que lhe era familiar, a voz da sua réplica luminosa, que havia prometido retornar, quando ele despertasse sua alma… ele não tinha dúvidas.

-O que? Estou procurando no lugar errado? Pois então me mostre o lugar certo para encontrá-la. O jovem fica mais tranquilo, começa a entender que aquilo é um jogo de esconde-esconde e por enquanto sua alma está levando a melhor. Já o encontrou e ele não faz a menor ideia de onde ela está.

-Volte para a caverna! Propõe a voz que vinha do seu interior….

Yerananda volta para a caverna e a voz interior pede para que ele se sente, acalme a respiração, feche os olhos e se interiorize. Yerananda fica maravilhado com o que vê! Ali diante de sua presença, a sua presença, sua alma completamente limpa, toda dourada, um dourado mais intenso que o do ouro! Yerananda quer que tudo pare naquele momento em que ele vê a sua alma desperta. O melhor de tudo é que a sua alma ali presente, é simplesmente a sua réplica luminosa que disse que voltaria quando a alma despertasse. Numa versão tão perfeita, que é impossível descrever.

-Agora já não precisamos de intermediários. Sou a sua alma desperta, e quando desperto entramos em unicidade perene, sem chave para ligar e desligar a conexão. Estamos conectados para sempre! Agora nós somos um. Diz sua alma sorrindo.

Yerananda, não sabe o que dizer, mas sabe muito bem o que está sentindo, sua mente fica em silêncio, como se não existisse. O seu corpo ele também não sente, não há mente e não há corpo, que leveza, que sutileza. A natureza dança diante do jovem, tudo ali é novidade, é deleite ininterrupto e definitivo. O conhecedor e o conhecido se conectam, são uma coisa só. Yerananda nunca sentiu tamanho repouso, ele e o uno se encaram. Não há mais caminho a seguir, também não há mais meta, tudo está claro, os véus dos mistérios se abrem, como as cortinas das janelas. O caminho, a alma e Deus, uma coisa só, a ilusão de separação se dilui, se dissolve. Tudo é revelado, Yerananda se torna o sábio, o saber, a sabedoria. Sem visar os frutos de suas ações, Yerananda só quer servir à humanidade, manifestar, compartilhar esse eterno momento com o universo.

 

O ABSOLUTO

                     (Sri Chinmoy)

 

Nem mente, nem forma, Eu apenas existo;

Cessaram agora toda vontade e pensamento.

O último fim da dança da natureza;

Eu sou Aquele por quem busquei.

 

Um reino de deleite descoberto, definitivo,

Além de ambos, conhecedor e conhecido.

De um descanso imenso desfruto enfim;

Apenas o uno encaro.

 

Cruzei os secretos caminhos da vida;

Tornei-me a Meta.

A verdade imutável está revelada;

Sou o caminho, a Alma-Deus.

 

Meu espírito sabedor de todas as alturas,

Estou em silêncio no âmago do sol.

Nada barganho com o tempo ou com as ações;

Meu jogo cósmico está concluído.

 

O despertador humano toca e desperta Yerananda do seu sonho paradisíaco, antes do seu despertar definitivo.

Minha alma? Você está aí? Pergunta Yerananda, como se não estivesse sentindo a sua presença.

-Sim. Você me despertou! Responde a alma de Yerananda rindo e entusiasmada.

-Estranho! Você respondeu, como se eu mesmo estivesse respondendo. Constata Yerananda.

-Sim. Estamos conectados. Ambos respondem rindo muito da situação de unicidade inusitada.

-É verdade que você sabe de tudo que se passa comigo? Indaga Yerananda.

-Sim. Confirma a alma.

-E no universo também?

Sim. Confirma a alma. Sei até mesmo onde você está querendo chegar. Acredite agora somos capazes de responder a toda e qualquer pergunta, todas as perguntas e respostas doravante são facílimas.  Temos livre acesso às nossas memórias. E nossas memórias são mais vastas que qualquer outra memória que você imaginou previamente.

Yerananda desde sempre quis saber se existem outros planetas habitados por seres semelhantes aos seres humanos, extra terrestres ou coisa parecida. No momento em que Yerananda se abriu para esse questionamento, sua mente recebeu uma carga de luz dourada poderosíssima, entrou em êxtase total, seus olhos reviraram-se, seu corpo ficou completamente relaxado e ele percebe que seu cérebro mudou de patamar, foi para 15% da capacidade total. Sente-se conectado com tudo e com todos, ele sempre acreditou nessa possibilidade, agora era real. Percebe a seiva fluindo nas artérias das árvores, as raízes fazendo sinapses debaixo da terra, o espaço que antes parecia vazio agora está tomado por pequenos pontos de luz que se comunicam através de uma rede infinita, que conecta tudo e a todos. Yerananda vai viajando nessa rede, visita várias estrelas que antes pareciam indiferentes ao sofrimento humano, agora Yerananda pode ver claramente tudo inseparavelmente conectado. Vários sistemas solares semelhantes ao nosso, e não encontra nenhum vestígio de habitantes fora da terra.

Quando Yerananda volta da longa viagem, percebe que os ponteiros do seu velho marcador de tempo não se mexeu, enquanto viaja.

-Uau! Que incrível!

Yerananda está experimentando uma felicidade diferenciada, um deleite nunca experimentado e a sua curiosidade satisfeita. Devemos todos cuidar do nosso jardim do éden, a Terra. Sim. Existem seres habitando outros planetas, com inteligência elevadíssima. E eles estão entre nós. Para chegarmos até aqui, passamos por muitos milênios, por muitas formas, por muitas guerras internas e externas. Os nossos irmãos minerais, vegetais, animais, humanos e divinos. Todos contribuindo divinamente com a nossa evolução, com a nossa elevação de consciência. Todos com as suas singularidades; as rochas, os seixos, as árvores, as ervas, os peixes, as aves, os seres humanos todos. Sim! Todos tem uma alma adormecida dentro de si. Eu disse todos os negros, os índios, os anões, os orientais, os ocidentais. Cada partícula por menor ou maior que seja tem uma alma que as habita. Viemos todos de outras galáxias distantes em busca da matéria como a conhecemos. O céu, o paraíso que uns tanto buscam e outros tantos prometem: É aqui. Era aqui. Poderá ser aqui. Só depende de nós.

A partir desse dia Yeranada se tornou uma pessoa iluminada, que leva a sua luz onde vai e no que quer que faça. É requisitado para dar palestras ao redor do mundo, e todos se transformam com a presença de Yerananda, sim com a sua presença já que ele não fala desde que despertou a sua própria alma.

Agora mesmo, acabei de assistir a uma dessas palestras, aqui em Varna na Bulgária. Yerananda acaba de abrir para perguntas, que são todas respondidas no mais profundo silêncio.

Fim.

Sono e a consciência cósmica – a necessidade do sono

Pergunta: Você sempre dorme à noite como fazia antes de alcançar a consciência cósmica?

Sri Chinmoy: Sim. Consciência cósmica e sono são duas coisas diferentes. Uma vez que a pessoa tenha alcançado a consciência cósmica, ela não a perde, mesmo que durma. Ela se torna parte e parcela da sua própria existência. Suponha que você tenha um objeto nas mãos. Mesmo enquanto estiver dormindo, ainda pode segurar esse objeto. Similarmente, quando se torna um com a consciência cósmica, com a própria Divindade, isso fica dentro de você. Mas ao alcançar a consciência cósmica ou ao realizar Deus, a pessoa não tem que dormir sete ou oito horas por noite. Uma ou duas horas são mais que suficientes para a alma realizada. E o indivíduo faz esse descanso por sentir pena do corpo, que entra todos os dias no campo de batalha da vida. Se tiver alunos ou discípulos, ele tem que entrar nos problemas deles, consciente e devotadamente. Logo, a sua consciência-corpo precisa e merece de algum descanso. Se não dormir, isso não vai afetar a sua saúde; mas ele poderá lamentar pelo corpo físico. Então dará um certo descanso a este corpo. Muitas pessoas dormem por hábito ou letargia. Algumas dormem oito horas, dez, onze, doze horas. Nós temos que saber de quanto sono o corpo realmente necessita e não o quanto ele requisita. Eu quero dizer que mais de sete horas de sono não é necessário para nenhum indivíduo. No início, se a pessoa estiver fraca, se tiver alguma doença física, naturalmente terá que dormir mais. Mas se a sua saúde estiver boa, sete horas são mais do que suficientes para o começo de qualquer buscador. Se um buscador sincero dormir mais do que sete horas, isso significa que está fazendo amizade com a ignorância.

No meu caso, eu tiro poucas horas de descanso por noite – algumas vezes duas, outras vezes três horas. Mas certas vezes, por várias noites seguidas, eu não durmo – não por causa dos meus problemas pessoais, mas por causa dos problemas dos meus discípulos. Eu tenho que resolver os seus problemas antes do dia amanhecer. É claro que também são problemas meus, já que eu aceitei os alunos espirituais como meus .


Veja também meditação para dormir.

A morte e o ciclo de renascimento

Pergunta: Você acredita no ciclo de renascimento?

Sri Chinmoy: Sim, eu acredito em renascimento, na reencarnação. No mundo da aspiração nós sabemos que num pequeno período de vida, não podemos realizar o Mais Elevado, o Absoluto. Mas também sabemos que Deus não permitirá que permaneçamos insatisfeitos. Ele nos dar;a muitas oportunidades para satisfazermos a nós mesmos. Qualquer coisa que ganhemos em uma encarnação, qualquer progresso que façamos em direção à nossa Meta, permanecerá na nossa alma após deixarmos o corpo. Então, após um pequeno descanso, nossa alma voltará com um novo corpo, um novo vital, uma nova mente, para continuar a nossa jornada e de novo tentar realizar e manifestar a divindade na terra. É como uma vela que vai de uma sala da casa para outra.
A reencarnação é um fato inegável, mesmo numa só vida. Em uma vida, vemos como podemos viver a vida de desejo e renascer para a vida de aspiração. Depois vem a vida de realização, de revelação e por fim, a vida de manifestação. Então, mesmo em um só corpo, podemos viver muitas vidas até alcançarmos a Meta mais elevada.

Meu Supremo, meu Supremo, meu Supremo!
A vida tem medo de ver
A face da morte.
A morte tem medo de ver
A imortalidade da alma.
Meu Supremo, meu Supremo, meu Supremo!

O Mantra Hare Krishna de Yogod – uma história

mantra hare krishna historiapor Akrura Bogéa

Kangal o mendigo, estava absorto ouvindo um grupo de devotos, cantando mantras, em homenagem ao grande Krishna:

-Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna, Krishna, Hare, Hare. Hare Rama, Hare Rama, Rama, Rama, Hare, Hare… cantavam e dançavam graciosamente às margens do rio Ganges, tocando alguns instrumentos de percussão e invocando a proteção do grande Avatar.

Kangal deu uma repassada nas lembranças de sua vida de necessidades, enquanto ouvia os devotos de Krishna. A fome começa a incomodar e ele sai cantarolando o mantra, em busca de alimento. A todos que ele pedia lhe negavam um prato de comida, as pessoas o olhavam com repulsa, como se a pobreza dele fosse uma doença contagiosa. Já cansado de caminhar e morto de fome, Kangal sentou-se debaixo de uma enorme árvore, começou a recitar o mantra que ouvira os devotos do Lord Krishna cantar…

Hare Krishna, Hare Krishna…cantava baixinho, já que suas forças lhe escapuliam, de tanta fome.

Yogod, um garoto de 13 anos, vinha da escola, reparou naquele homem que cantava um mantra muito bonito… se deteve ali contemplando o mendigo, naquele cenário que produzia uma atmosfera de paz, harmonia e felicidade para o garoto. O mendigo ao perceber a presença de Yogod, fingiu estar em meditação profunda. Pensou consigo… quem sabe o garoto não lhe traria um prato de comida, ao lhe confundir com um yogue ou um buscador de Deus… Yogod o garoto, na sua inocência, corre até a sua casa, chega esbaforido e pede à sua mãe um prato de comida, para levar ao santo que meditava sob uma grande Figueira. Kangal o mendigo, acolheu o prato de comida que o garoto lhe trouxera, comeu silenciosamente, como os santos sempre fazem, devolveu as vasilhas sujas e vazias a Yogod e voltou a fingir que meditava.

No dia seguinte, O garoto chega com um prato de comida suculenta, com muito cuidado para não perturbar o santo, coloca o alimento aos pés de Kangal, que fica muito agradecido, entrando em contato com a comida pelo olfato, e continua fingindo ser um yogue silencioso, em busca da sua realização. A partir daquele dia Yogod, coloca na sua rotina diária; Chegar da escola esbaforido, apressar sua mãe para fazer o prato de comida do seu mestre e ir correndo servi-lo. Sentava-se aos pés do mendigo de mãos postas e aguardava silenciosamente este fazer sua refeição, o mendigo por sua vez, se acomodou nesta situação, já que o seu almoço diário, estava garantido. Yogod jamais podería desconfiar, que o mendigo não poderia ser seu mestre e nem mestre de ninguém.

Passados alguns dias, o garoto chega com o almoço do seu guru, como de costume, no fim da refeição, Kangal o mendigo, lhe dirige a palavra pela primeira vez e diz:

-A partir de amanhã, você está liberado de me trazer o prato de comida.

-O quê? Não acredita Yogod, no que acabara de ouvir.

-É isso mesmo que você ouviu. Confirma Kangal, amanhã, não estarei mais aqui, hoje à tarde partirei, já que cumpri a minha missão nessa cidade, preciso levar as minhas bênçãos a outras cidades necessitadas.

-Eu irei com você?! -Interrompe Yogod, quase que suplicando.

-Não, Você não pode. Você tem que estudar, você tem uma família que sentirá a sua falta.

-Que me importa mestre, a escola, a família, diante do meu amor, entrega e devoção ao meu guru. Você é o meu guru não é? Quer saber Yogod. O mendigo se vê bem encrencado diante daquela situação, jamais imaginou que pudesse ter um discípulo tão puro, amoroso e devotado.

-Não. Você fica. Diz o mendigo entre enfático e desesperado.

-Mas Mestre, tenho vindo aqui todos os dias, tenho lhe servido com devoção, tenho me esforçado para aprender as suas lições silenciosas… como vou viver sem a sua presença… chora o garoto desamparado pelo seu falso mestre.

-Pare de chorar! Grita o mendigo firme… vou lhe dar um mantra que irá me substituir perfeitamente… tentando consolar Yogod. -Todas as manhãs, às seis horas, entoe esse sagrado mantra, repetidas vezes. Se você seguir estas instruções, num futuro muito próximo, você se iluminará.

-Está bem meu guru querido, eu o farei, estou ouvindo, mas eu ainda preferia partir com você… diz o garoto limpando os olhos com o dorso das mãos.

-O Mantra é o seguinte: “Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna Krishna, Hare, Hare”…Repita comigo até aprender…

-Já sei mestre, Hare Krishna, Hare Krishna… esse é o Maha mantra dos Hare Krishnas, costumo ouvi-los cantar, só não sabia do poder desse mantra. -Interrompe o garoto Yogod, repetindo o mantra por algumas vezes, demonstrando que estava atento.

-Este é o seu mantra sagrado, agora volte para sua casa e não esqueça de entoar o seu mantra a partir de amanhã… às seis da matina. Complementa o mendigo aliviado. Despediram-se, o garoto pareceu mais tranquilo em relação à partida do falso guru.

Yogod saiu daquele último encontro, cantarolando o seu mantra para jamais esquecê-lo:

-Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna, Krishna, Hare, Hare…A família de Yogod, acostumou-se com a cantoria do mantra madrugada adentro, – Hare Krihna, Hare Krishna… Yogod cantava o mantra em voz alta ou em silêncio o tempo todo que Deus lhe dava, afinal o mestre lhe garantiu, que se assim agisse se libertaria ou se iluminaria.

Três anos se passaram, Kangal o mendigo estava numa cidade distante dali, muito enfermo, os médicos e curandeiros já o haviam desenganado, ele estava com uma doença muito grave. Na sua última consulta, o médico lhe recomendou para despedir-se de seus parentes, mas o mendigo não tinha parentes. Lembrou-se do garoto Yogod, que lhe alimentou por algum tempo, que o respeitou, reverenciou como a um grande yogue. Então, Kangal o mendigo resolve voltar à cidade do garoto para se desculpar, por ter se passado por um yogue, já que a culpa o consumia. Ele sabia muito bem o que ele realmente era, não passava de um mendigo. Preparou um farnel e dirigiu-se para a vila onde conhecera Yogod, disposto a pedir perdão ao jovem. Bem sabia que o perdão é tarefa difícil, tinha que ser forte para encarar Yogod de frente e se desculpar.

Chegando na pequena vila, dirigiu-se para a grande árvore às cinco da manhã, onde há três anos se sentara e fora alimentado pelo bondoso garoto. Kangal chegou muito cedo e pode ver uma fila imensa, que dobrava esquinas, de pessoas que vinham de diversos lugares, com as mais diversas doenças, aguardando atendimento, cegos, aleijados, desvalidos… Kangal entra na fila, sem saber muito bem porque, talvez por curiosidade, a fila vai crescendo atrás dele rapidamente. Resolve então perguntar, para uma anciã à sua frente:

-Que fila enorme é essa? Estão distribuindo remédios, ou o quê? Como funciona?

-Todos aqui nessa fila seremos curados de todas as nossas enfermidades, do corpo físico, psíquico e da alma, pelo jovem santo. -Responde-lhe a idosa complementando, o maior santo que a Índia já conheceu.

Kangal o mendigo, fica animado considerando aquilo tudo um verdadeiro milagre, Ele desenganado com a chance de ser curado pelo maior dos santos… sente uma fraqueza, começa a suar frio, ele desconfia que é pelo cansaço da viagem empreendida, para chegar até ali. Começa a desconfiar, que o jovem santo não dará conta de atender tanta gente… perdido nesses pensamentos, um discípulo do santo, toca seu ombro delicadamente e lhe fala ao pé do ouvido:

-Meu mestre pediu-me para colocar-lhe num lugar mais apropriado dessa imensa fila, ampara o mendigo e o coloca na frente da fila. Todos ficam admirados, já que era dito por todos, que ninguém tinha privilégios com o jovem Santo. Quem será aquele ancião? Era o que todos se perguntavam… Kangal, não entende absolutamente nada do que lhe está acontecendo. Quando a porta da casa simples do grande curador se abre, as seis horas da manhã, Kangal não acredita no que vê, acha que só pode estar tendo o seu último delírio antes de morrer. Já é um rapaz, de uns 16 anos o santo que se apresenta diante dele. Suas feições não mudaram muito, talvez um pouco mais delgado, mas definitivamente aquele era o garoto que lhe tratou equivocadamente como se trata um guru, com amor entrega e devoção. Os olhos do garoto brilhavam mais que antes, seus gestos eram graciosos, suave, amoroso e irradiava uma grande alegria por encontrar Kangal, o seu guru que partira e lhe deixara para tras. O velho mendigo, dobra os joelhos com dificuldade e cai no chão, diante daquele santo verdadeiro, e lhe pede perdão, quase que aos gritos:

-Perdão! Meu Deus! Você se iluminou!

-Não há o que perdoar, você é o responsável pelo meu despertar, pela minha iluminação, não fosse você, o que seria de mim, provavelmente estaria ainda nadando no mar da ignorância, agora sou o sabedor de todas as coisas… Yogod ampara o mendigo com seus discípulos, deitam-no na maca e o mendigo sente uma vibração muito forte e muito pura, que emana das mãos do santo. O santo espalma suas mãos próximas ao corpo de Kangal, ele pode ver um grande fluxo de luz dourada, fluindo das mãos do jovem santo Yogod. Antes de apagar completamente, Kangal ouve o garoto entoando um mantra que lhe era familiar:

– Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna Krishna, Hare Hare, Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare…

Quando Kangal desperta do transe, está curado completamente.

Quando o discípulo é puro e verdadeiro, ele realiza Deus, ainda que o seu mestre seja falso. -Diz Kangal ao despedir-se do garoto.

-Você é um yogue realizado! Um dia você se dará conta dessa realidade. -Diz yogod com seu sorriso sutil que a tudo ilumina.

Caminhando sobre as águas

caminhar sobre as águas

por Akrura Bogéa

Hoje contarei para vocês, a história do jovem Yogod de dezesseis anos, que morava com a sua avó, às margens de um rio grande. Quase todos os dias, o jovem atravessava o rio, com o barqueiro Nandika que era amigo família. Assim, comprava alguns mantimentos, do outro lado do rio, onde havia um pequeno comércio. Numa dessas travessias, ouviu falar que em frente à sua casa, do outro lado do rio, tinha um yogue praticando austeridade e se dedicando a práticas espirituais avançadas. Yogod sabia muito bem, que se ele pudesse ajudar o tal yogue, ele seria muito abençoado. Mas, como? Depois de muito pensar numa forma de ajudar o yogue, resolveu levar um litro de leite. Naquele dia Yogod acorda às seis da manhã, depois de ordenhar a vaca, pegar uma carona com o canoeiro, finalmente chega ao local onde o yogue se encontra às nove da manhã. O ancião está na sua prática de meditação, num lugar deserto, sob uma grande amendoeira, quando ele chega, pisando com cuidado para não perturbar o praticante, aguarda silencioso, e conclui que se aquele homem ainda não realizou Deus, está muito próximo. Yogod fica encantado, com aquela visão do yogue meditando, parece que o tempo parou e que tudo se elevou, até mesmo os pássaros estavam em silêncio, O jovem Yogod podia ouvir uma folha caindo, enquanto admirava a serenidade, a paz e a beatitude, que aquele ser irradiava para ele em silêncio. Yogod se sente grato por estar no lugar certo, na hora certa, a serviço de alguém que se dedica à espiritualidade. O yogue abre seus olhos brilhantes de luz, Yogod se curva respeitoso e oferece o que trouxera para o yogue, um litro de leite e seu próprio coração pleno de amor e gratidão.

O yogue olha para o jovem, que fica paralisado com aquele que poderia ser um simples olhar, ele não saberia dizer, o que tinha de diferente nos olhos do yogue. As palavras não alcançam, o entendimento e a definição de determinadas experiências. Ao final desse primeiro encontro auspicioso, Yogod sai saltitando de volta para a sua casa, cantarolando, assobiando e rindo á toa Aquele parecia ser o dia mais feliz de sua vida. Tudo fluiu na mais perfeita harmonia, Yogod estava em paz consigo e com o mundo… quando vai dormir, agradece por aquele dia maravilhoso, que começou com o encontro inusitado.

-Amanhã, acordarei mais cedo para não perturbar a meditação do meu mestre… do meu mestre? Ele só me olhou, nada falou comigo… já estou eu dizendo que ele é o meu mestre… por que não? Devo ter aprendido muitas coisas no mundo interior, naqueles poucos momentos de silêncio… com aquele olhar especial que ele dirigiu para mim. Yogod pega no sono e no dia seguinte está de pé às quatro da manhã.

Ordenha a vaca, corre para pegar o pequeno barco do Nandika, corre até o destino onde se encontra o yogue e chega lá às sete horas em ponto. Percebe que o santo já está em meditação profunda. Yogod senta-se em silêncio, aguarda, até que o yogue volte para o seu estado de consciência ordinário… o Yogue aceita a oferenda do jovem, e faz um delicado sinal despedindo-se. O jovem rapaz se sente cada vez mais feliz, mais em paz, mais conectado com aquele yogue silencioso, que transmitia muito sem a necessidade de palavras. Estava deveras orgulhoso espiritualmente, pelo serviço, já que no seu entendimento, ao servir um buscador de Deus estava servindo ao próprio criador o Supremo. Todos percebiam a mudança, Yogod andava com um lindo sorriso estampado no rosto, um sorriso fácil, relaxado, saltitante, levando aquela luz e alegria por onde ia.

Yogod tinha certeza de que o Yogue estava muito satisfeito com ele, com a sua oferenda, ainda que ele não tenha falado ou feito qualquer comentário, a esse respeito. Depois de algum tempo nessa rotina de acordar entre quatro e cinco da manhã, ordenhar a vaca, pegar o barco, chegar ao yogue meditando às sete… o homem santo, num belo dia resolve dirigir-lhe a palavra:

-Você não pode chegar mais cedo? Às seis? Indaga o Yogue e o jovem estremece.

Yogod, meio que nervoso, responde que não é possível, já que o barqueiro começa a fazer a travessia às seis da manhã. Diz que pega o primeiro horário de travessia para estar ali diariamente às sete… não estou reclamando, só estou querendo mostrar ao Senhor que não estou sendo negligente e nem letárgico… que se dependesse de mim claro que eu chegaria às seis com o maior prazer.

-Então, a partir de amanhã, você não precisa mais trazer o leite. Diz o Yogue muito tranquilo. E o mundo do jovem Yogod desaba com a frase que acabara de ouvir.

-Mas, por que mestre, não faça isso comigo, eu trago o seu leite com tanto prazer e alegria, Eu gosto e eu estou muito feliz em servi-lo, não faça isso por favor, esse leite é puro, fresquinho.

-Não se trata disso, interrompe o yogue. Quando você chega aqui, que nem sempre é no mesmo horário, já estou meditando… isso perturba um pouco a minha prática, como você pode ver, ainda não estou tão evoluído assim, a ponto de a sua presença não trazer perturbações. Faz-se um silêncio e pode-se sentir a tristeza que toma conta do coração de Yogod, que se pergunta em voz alta:

-E agora, o que será de mim? Tem que haver um meio, o Sr. é um homem sábio, sei que pode me ajudar, como faço para chegar aqui às seis? Implora Yogod. – Diga-me, que em obediência eu o farei.

-Parece-me que o que impede você de chegar aqui às seis da manhã, é a sua travessia do rio, você depende do barqueiro e ele só começa a travessia no horário que você deveria chegar aqui. Você tem mesmo que depender do barqueiro? Pondera o ancião.

-Ora mestre, como posso atravessar o rio sem barco? Isso é impossível! O barqueiro não começará a travessia mais cedo, só porque quero lhe trazer um litro de leite. Me desculpe! Pede Yogod meio que desesperado e impaciente.

-Talvez seja possível. -diz o yogue.

-Como? Do que o Senhor está falando? Quer saber Yogod.

-Venha andando sobre as águas! Diz o yogue enfático.

-O quê? Mas eu posso? Duvida Yogod.

-Para aqueles que creem, nada é impossível! -Se você tiver fé plena, inabalável, você conseguirá andar sobre as águas. Todos sabemos que o mestre Jesus o fez. Garante o yogue.

Yogod vai embora naquela manhã muito triste e pensativo. No dia seguinte, Yogod chega às seis da manhã em ponto, ele então percebe que o yogue fica bastante satisfeito…nos dias que se seguem, Yogod sempre pontual…até que um dia….O yogue resolve dar o ar da graça da sua voz novamente:

-Você resolveu seu problema com o barqueiro? Pergunta o Yogue.

-Não. Diz Yogod encabulada. -Eu tenho vindo andando sobre as águas do rio, conforme o senhor mesmo sugeriu… mas ainda estou me acostumando com a ideia é um segredo, ninguém sabe que faço isso, venho da minha casa por uma trilha até o rio, um pouco acima daqui, sempre tomando cuidado para que ninguém me veja. Quer saber? -É muito bom andar sobre as águas, chegar aqui no horário combinado e vê-lo satisfeito comigo. Complementa Yogod sorridente.

-Posso saber como você faz isso? Pergunta o yogue admirado e meio incrédulo.

-Como o Sr. sugeriu, fé plena e inabalável, lembra? Consegui na minha primeira tentativa e jamais fraquejei na minha confiança e fé nos seus ensinamentos. Diz Yogod.

O mestre põe suas vestes, uma espécie de dote (túnica branca e fina), uma sandália simples e pede para Yogod lhe mostrar esse grande feito. No caminho para o rio, o velho yogue confessa que embora soubesse, que andar sobre as águas é possível, ele mesmo, jamais havia tentado.

-Isso não vai ser nenhum problema, eu mesmo lhe mostrarei como se faz….Diz Yogod muito tranquilo e confiante.

O jovem Yogod e o yogue chegam a beira do rio, o rapaz começa a andar sobre as águas com desenvoltura, enquanto o yogue enfia seus pés na água e diz:

-Eu não consigo! Veja, Eu estou afundando… segurando os chinelos numa das mãos e levantando a túnica com a outra.

– Yogod começa a rir daquela cena do pobre yogue afundando… você consegue! Mas, tem que ter plena fé e confiança. Não pode levantar a túnica para não molhá-la como o sr. fez e nem pode tirar as sandálias dos pés.

Bem, essa é mais uma história de autotranscendência e superação. Onde o mestre é superado por seu discípulo, que com a sua fé e vontade de servir, opera milagres. O yogue por sua vez, fica muito feliz com o seu discípulo, que na sua obediência o supera.

Eros e Psiquê

Eros e Psiquê

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E os livros

 


A lenda de Eros e Psiquê

recontada por Akrura Bogéa

O professor Yogod foi convidado para contar e comentar uma história mitológica da Grécia, para os alunos de psicologia de uma grande universidade.

sonhos eros psique-Hoje vamos contar a história do anjo Eros e da Psiquê. Uma das mais belas histórias mitológicas na minha opinião, que se dá numa relação entre os homens e os Deuses do Olimpo. Existiam doze deusas no Olimpo, uma delas é a Deusa do amor, Afrodite, que é mãe do anjo Cupido, que sai por aí atirando setas e flechas de paixão. É o responsável pelas grandes paixões da humanidade. Ao crescer, o Cupido se torna o jovem anjo Eros, que tinha uma beleza incomparável, tanto no nível da beleza humana, quanto no que diz respeito à beleza dos Deuses do Olimpo. Ele era perfeito em tudo e era todo amor. Sua função, tal qual a função do anjo Cupido, continuava sendo a mesma: espalhar a paixão através dos corações humanos.

-Muito bem! Psiquê era uma das três filhas de um Rei de Anatólia. Era tão bonita, que os homens e pretendentes a temiam por sua beleza e se acovardavam. Nenhum deles se achava merecedor daquela jovem e começaram a admirá-la como a uma Deusa. Às vezes exageravam e ofereciam mimos e oferendas para ela. Afrodite, a Deusa do amor, a mais bela das Deusas do Olimpo, vendo tanta admiração e agrados, ficou enciumada e delegou ao seu filho Eros, o Deus da paixão, que desse uma lição, naquela que supostamente estava roubando o seu lugar.

-Desfira uma flecha contra Psiquê, depois então, desfira a mesma flecha contra o homem mais feio do mundo, para que eles se apaixonem e se casem. Orientou Afrodite, entendendo que seria uma ótima vingança, ver a mulher mais bonita da terra, matrimoniar-se com o homem mais horripilante.

Eros desce do Olimpo, vê Psiquê adormecida na beira de um regato à sombra de uma grande árvore. Eros dispara sua flecha contra Psiquê, e quando vai recolher a flecha para desferi-la contra o homem mais feio do mundo:

-Veja que ironia do destino, quando Eros está retirando sua flecha, Psiquê suspira e Eros percebe que está diante da jovem humana mais bela que ele já vira. Distraído, se fere com a seta que estava destinada ao homem mais feio do mundo e ali mesmo, Eros se vê apaixonado como nunca lhe acontecera, já que a sua paixão até então, era ver os casais apaixonados que ele mesmo flechara. O tempo passa e as duas outras irmãs de Psiquê se casaram. Para ela, nada de aparecer nenhum pretendente. A Deusa Afrodite, continuava acompanhando tudo o que acontecia com a bela jovem e não estava nada satisfeita com as tais oferendas. Continuava temendo que ela pudesse tomar o seu lugar. Onde já se viu, os homens fazerem oferendas para uma simples humana. Afrodite acreditava que quando Psiquê se deparasse com o homem mais feio do mundo, ferido por seu filho Eros, tudo estaria acabado.

como meditar corretamenteO pai de Psiquê, o Rei, resolve consultar um oráculo, quando vê que suas duas outras filhas se casaram e que não apareceu nenhum pretendente para Psiquê. – O que se passa com a sua bela filha? Quer saber o velho Rei. Que fica muito triste pelo destino indicado pelo oráculo consultado. Orientou o oráculo, que o pai vestisse a filha com roupas e adornos de uma noiva e que a abandonasse no pico da mais alta montanha, para que ela fosse sacrificada a desposar um homem incomum. Cumprindo com a orientação, o rei acreditava que o seu reinado continuaria próspero e pacífico. O Rei comunicou a familia o ocorrido e todos concordaram pesarosos, entendendo que esse homem incomum seria um monstro ou algo parecido. A rainha, as duas irmãs de Psiquê e a própria se conformaram com aquela trágica situação. O castigo imposto por Afrodite, que envolveu Eros o seu filho, para dar uma lição em Psiquê, estava próximo de realizar-se. O velho Rei, prepara a sua filha para a noite de núpcias, e a leva para a montanha mais alta, onde o vento Zéfiro sopra. Psiquê adormece para fugir do medo e é levada pelos ares, colocada suavemente num vale cheio de árvores, num palácio dos sonhos, cercado por um imenso jardim, com criados para servi-la em tudo quanto fosse necessário. Psiquê acorda, já é noite, seu pretendente está presente, extremamente educado, atencioso, carinhoso e apaixonado. Ela se sentiu divinamente amada, ele coloca uma única condição, como um pacto nupcial; Ela jamais poderia vê-lo, se isso viesse a acontecer ela o perderia para sempre. Seu marido chegaria sempre à noite, com todas as luzes apagadas para que ela não visse o seu rosto. Psiquê concorda prontamente, com essa única condição feita por seu marido, já que ela estava muito, muito feliz. Eros desposou-se dela, mas sua mãe Afrodite jamais poderia desconfiar, que ele Eros, seu próprio filho não executara a sua vingança, tudo que Eros não queria era despertar ainda mais a fúria de sua mãe, contra a sua esposa. Ele a conhecia muito bem. Ela só descobriria o segredo de Eros, se a sua esposa visse o seu rosto, daí a necessidade do acordo de núpcias.

-Passado algum tempo, Eros e Psiquê, era o casal mais feliz de todos os tempos. Um belo dia, apesar das recomendações dos oráculos, de que Psiquê, deveria esquecer o passado, e viver no presente com o seu marido. Ela começa a sentir falta das suas irmãs e da sua família. Então ela pede a seu marido permissão para visitá-los. Com um certo receio, Eros concorda. O vento leva Psiquê até o Palácio de seus pais, que ficam encantados com a aparência da filha, o impossível aconteceu, a filha ficou mais bonita ainda, com a aparência de felicidade plena. Psiquê começou a falar da sua vida feliz ao lado do marido, de como ele não lhe deixava nada faltar, de como o seu palácio era maravilhoso, falou dos seus jardins, da arte e da beleza que lhe cercavam. Enquanto falava as suas duas irmãs ficam possuídas pela inveja, se até os Deuses do Olimpo sentem inveja, imagine elas que são simples humanas. Resolvem então pedir para a irmã descrever o seu marido. Psiquê desconversava, mudava de assunto, mas as irmãs insistiam em querer saber da aparência do marido de Psiquê. Depois de repetir muitas vezes de que não gostaria de falar sobre a aparência do seu marido, já que ela mesma não saberia responder. Ela Psiquê, mesmo lembrando-se do acordo com Eros, não resistiu e acabou revelando o segredo do casal. As irmãs possuídas pela inveja, a todo custo, tentam convencer Pisiquê a ver o rosto de Eros. Alegam que provavelmente ela está dormindo com um monstro. – Do contrário para que tanta proteção sobre a aparência do marido?

Psiquê volta ao palácio e fica curiosa por algum tempo, mas continua resistindo a tentação de ver o rosto de Eros. Até que chega uma noite, onde as resistências de Psiquê se esvanecem, e seu   esposo Eros dormia o sono dos satisfeitos e muito tranquilo. Psiquê se levanta de madrugada, ascende uma vela e vai examinar o rosto de Eros. Ela fica paralisada com tamanha beleza. Além disso fica encantada pelos poderes da flecha de Eros, que os feriram de amor e paixão. A cera quente produzida pela chama da vela esqueceu de paralisar e caiu sobre o rosto de Eros, que dá um pulo da cama e percebe a “traição” da esposa que ele tanto ama e parte voando veloz para o Olimpos, com a firme intenção de nunca mais voltar, já que seu único pedido a esposa não fora cumprido. A Jovem Psiquê, se dá conta do que fizera, entra em pânico e desespero, chora sete dias e sete noites, achando que seu sofrimento trará Eros de volta, mas não, seu choro compulsivo de nada adiantou. Embora os Deuses e Deusas que viam tudo do Olimpo, tenham ficado extremamente penalizados.

Afrodite, soprava fogo pelas narinas de tanta raiva, imagina seu próprio filho, além de não cumprir com o previamente combinado, ainda resolveu se apaixonar por sua inimiga, ainda mais ele sendo um Anjo e ela uma simples humana… Menos mal, agora ela, a Deusa Afrodite, se sentia duplamente vingada, pela suposta ousadia de Psiquê tentar roubar o seu lugar e pela desobediência do seu próprio filho.

A tristeza de Psiquê era tão grande na terra, que começou a afetar o Olimpo. Zeus vendo e sentindo o sofrimento e o desespero de Psiquê, convoca Afrodite e intervêm a favor da sofredora, pedindo uma nova chance, para a jovem apaixonada e em desespero.

meditacao rio rj niteroiAs provações de Psiquê

Afrodite em obediência a seu pai Zeus, desce à terra contrariada e propõe que Psiquê, realize algumas tarefas que ela julga impossíveis de serem cumpridas, por qualquer ser humano:

Na primeira provação, Psiquê teria que separar um galpão cheio de sementes de papoulas, misturadas a outras sementes de milho, cevada, ervilha, lentilha e feijão. Afrodite calculou que essa tarefa árdua, deveria afetar a paciência e a beleza da jovem, que acabaria desistindo pela impossibilidade da tarefa em ser cumprida. Psiquê não se intimidou. Seu amor por Eros era muito maior e lhe inundava de confiança. Começou imediatamente a tarefa, já que ela só tinha 24 horas para realizá-la. Como nada escapava aos olhos de Zeus, ele percebeu que tal tarefa era impossível para qualquer ser humano, que não fosse dotado de poderes ocultos. Zeus concluiu que Psiquê não teria a menor chance de recuperar o seu amado. As formigas, penalizadas resolveram formar uma imensa colônia para ajudar Psiquê, que dentro do prazo, entregou a tarefa realizada. Cada semente separada conforme solicitado pela Deusa Afrodite, que diante de tal fato, percebeu que a jovem não ia desistir tão fácil, do seu objetivo, que era reconquistar Eros.

Na segunda provação, Afrodite caprichou mais ainda para dificultar. Ordenou a Psiquê, que conseguisse para ela, um quilo de lã dourada, dos carneiros do sol, que eram enormes, agressivos e providos de chifres afiados e pontudos, ninguém tinha coragem de se aproximar. Eles eram de fato muito selvagens e agressivos, inclusive uns com os outros, davam-se cabeçadas o tempo todo e sem motivos. Afrodite calculou que quando Psiquê chegasse no campo dos carneiros, seria esmagada por eles. A jovem Psiquê, estava deveras em apuros, não via saída. Mas… eis que veio um caniço verde de bambu em sua ajuda e fala para ela esperar o cair da tarde, hora em que os carneiros se recolhem, saciados e cansados. Nessa altura o momento seria mais propício para a realização da tarefa. Psiquê segue o conselho do caniço e colhe os fiapos de lã dourados, enquanto os carneiros exaustos cochilam. Entrega-os a Afrodite, dentro do prazo estipulado. Afrodite, se sente derrotada, sem entender de onde vem tamanha força, coragem e determinação.

Na terceira provação, Psiquê tinha que encher uma jarra de cristal, com a água do regato proibido, o regato era inalcansável, caía em forma de cascata, do pico do mais alto rochedo, não se podia subir por ser muito íngreme, não se podia alcançar a água que caía distante dos paredões do rochedo. A água caia nas profundezas do mundo subterrâneo cujo acesso era impensável. Psiquê não desiste. Embora saiba muito bem que essa tarefa, além de não ser fácil, é muito perigosa. A jovem Psiquê sobe pela encosta até onde é possível, e fica pensando numa estratégia para cumprir sua tarefa. O tempo dos humanos é linear e por isso mesmo passa. A jovem em desespero, não consegue pensar em nada que pudesse resolver a situação. Eis que uma águia, que tudo acompanhava, resolveu solidarizar-se com Psiquê, diante daquela difícil situação que ela se encontrava. A Águia tomou a jarra de suas mãos e a devolveu cheia de água da fonte proibida. Quando Afrodite recebe a jarra, fica incrédula com a perseverança e se perguntando de onde vinha toda essa coragem da jovem. Enquanto isso os Deuses do Olimpo vibravam a favor de Psiquê a cada tarefa realizada.

Na quarta provação, Afrodite tenta matar toda e qualquer esperança que Psiquê ainda pudesse ter. Ordenando que ela desça ao mundo avernal ou subterrâneo, para pegar a caixinha de pandora da Deusa Perséfone, esposa do Ades que é o terrível deus da morte. A caixa em questão, está bem segura sobre a penteadeira de Perséfone. Simplesmente era impossível adentrar nesse aposento e de lá sair viva. Psiquê não desiste, ela tinha uma meta, trazer seu amado de volta. Então ela desce ao mundo avernal e fica na porta do palácio, planejando uma estratégia, de como entrar no palácio, ir ao quarto de Perséfone e de lá sair incólume. Com o seu coração na mão, aguarda, alguma intuição, inspiração, aspiração para lá entrar, sair viva e cumprir sua quarta e última tarefa impossível. Uma das torres do castelo, sopra no ouvido de Psiquê, o segredo de como entrar e sair viva do castelo de Ades e Perséfone. A torre deu-lhe a planta do interior do castelo para que ela fosse célere. Psiquê dispunha apenas de cinco minutos, para fazer o que tinha que ser feito. Nesse horário algumas luzes do castelo eram apagadas e ficava na penumbra. A torre pediu que a jovem passasse e repassasse o trajeto, antes de entrar, do contrário pereceria no mundo avernal, por toda a eternidade. Punição imposta pelo Deus Ades, para quem ousasse invadir o seu palácio.

lenda de erosA Deusa Afrodite bem sabia que ninguém jamais invadiu aqueles aposentos e de lá saíra para contar a história. A jovem Psiquê se preparou e no momento propício partiu disparada em direção a penteadeira da Deusa Perséfone, que possuía todos os segredos da beleza feminina, na sua caixa de Pandora, agora desejada por Afrodite. A jovem chega na penteadeira e logo avista o pequeno objeto cobiçada, corre em direção à saída e consegue escapar no prazo previsto. O que não foi dito para a jovem, é que a caixa de Pandora provoca uma curiosidade mortal, num grau insuportável para um humano e só as deidades poderiam abrir essa caixa de segredos.

-O que será que tem nessa caixa de Pandora de tão especial?, pergunta-se curiosa a nossa heroína.

A torre que antes lhe aconselhara, pediu para que ela não abrisse a caixa em nenhuma hipótese, do contrário, o humano que abrisse essa caixa entraria num sono profundo por toda a eternidade. A jovem continua levando a caixa para a Deusa Afrodite, mas como era de se esperar, chega num ponto que ela não resiste e abre a caixa de Pandora. Imediatamente a mãe terra e os Deuses do Olimpo suspiram e lamentam.

-Psiquê cumpriu todas as tarefas que pareciam impossíveis, nadou por todos os oceanos e veio a morrer na beira da praia? Era o que todos os Deuses do Olimpo se perguntavam.

Eros o Deus e esposo apaixonado, vendo todo o esforço da sua amada vai até o seu avô Zeus e pede sua intervenção mais uma vez. Zeus está diante de uma situação inusitada, já que Psiquê é humana e Eros é um anjo e um Deus ao mesmo tempo..

-Vá buscar a sua esposa, traga-a para o Olimpo. Ordena Zeus.

-Como eu faço isso, nenhum humano antes adentrou ao reino do Olimpo? E a minha mãe, quem irá aplacar a sua fúria? Quer saber Eros.

-Deixe tudo por minha conta, vá, desperte-a e traga-a. A partir do momento que você assim o fizer, Psiquê será a décima terceira Deusa do Olimpo. Já que ela desposou meu neto e lutou bravamente por ele, vencendo todas as provações que lhe foram impostas por minha filha Afrodite. Uma alma que assim procede, merece ascender aos céus, concluiu Zeus. Nesse momento as formigas que ajudaram a separar os grãos, o caniço que ajudou na colheita de lã, a águia que encheu a jarra de cristal e a torre do castelo de Ades, aplaudiram de pé o desfecho da história.

Eros agradece ao seu avô, desce num voo rasante e veloz até a terra, pega Psiquê nos seus braços fortes e a transporta-a para o Olimpo ainda dormindo. Chegando ao seu palácio, desperta Psiquê com um cálice de ambrósia que era o néctar dos deuses. Um beijo desperta a guerreira, que agora não é mais a Psiquê humana, e sim, a Deusa Psiquê. O belo casal foi, é e será feliz para sempre por toda a eternidade.

Yogod faz uma pequena pausa…a plateia começa a aplaudi-lo, ele aguarda um pouco e continua…Vocês devem estar se perguntando por que eu escolhi a história que acabo de lhes contar? Já que existem tantas outras histórias mitológicas tão bonitas, algumas até mais bonitas do que essa…

-Bem, devo dizer novamente, que essa história me toca profundamente e de uma maneira muito particular. Os mitos estão presentes em nossas vidas, cada um de nós somos heróis, deuses e vilões da nossa própria jornada. Para aqueles que querem e tenham a coragem de amar e conhecer o amor profundamente, prepare-se muito bem para viver uma tragédia carregada de sofrimento. O amor é maravilhoso e ao mesmo tempo muito cruel, de uma certa maneira é isso que a história de Eros e Psiquê nos alerta. Psiquê na língua grega significa alma, que anseia por amar e através desse amor, realizar a sua missão de subir a escada posta entre a terra e o céu. A alma nem sempre está preparada para sentir e manifestar esse amor, no caso da nossa personagem, tinha em si muita curiosidade humana, que a derruba por duas vezes dessa escada de ligação. A primeira ao querer ver o rosto de Eros, traída por um minúsculo pingo de cera da vela que ela usara para ver no escuro, que protegia o segredo que ela compartilhava com o seu amor. Indica-nos essa história que quanto mais profundamente amamos, maior é o nosso sofrimento. Só pode amar de verdade, quem está pronto para isso, passar por um processo de purificação, simbolizada na nossa história, pelos desafios impostos, pela Deusa e sogra de Psiquê, a Deusa Afrodite. Quando Eros propõe que a sua amada não o veja completamente, ela não pode vê-lo na claridade da luz do dia. Não é isso que acontece no início dos nossos relacionamentos? Quando nos apaixonamos? Quando nos enamoramos mais de nós mesmos, como a um reflexo no espelho. No escuro, início dos nossos relacionamentos, pouco podemos ver de nossos parceiros. Quando nossa heroína, parece feliz, vem a dúvida, a desconfiança, provocada pela inveja de suas irmãs. A dúvida dá luz a curiosidade, atributos humanos. Há quem diga que a Psiquê foi imprudente, traiçoeira, desconfiada. Eu diria que ela teve necessidade de conhecer melhor o seu amor. Conhecer melhor o nosso amor, significa transcender a fase da paixão, ver até onde podemos chegar, constatar que o amor não tem limites, amar de verdade o que o outro é, sem querer modificá-lo. Quem de nós empreende essa empreitada sem dor e sofrimento?

Eros esconde de Psiquê a sua verdadeira identidade. Wle não quer ser conhecido completamente por ela, protege o seu rosto, que simboliza as nossas máscaras e identidades. Psiquê certamente não estava completamente feliz naquela zona paradisíaca de conforto, muitos outros mitos abriram mão dessa zona de conforto, já que aí não há evolução. Ela queria ir mais fundo, conhecer melhor, quebrando assim o pacto de núpcias, que lhe traz consequências. Sabia a jovem Psiquê, que o verdadeiro amor não aceita barganhas, condições ou expectativas e para cada expectativa que cultivamos, somos açoitados pelos dolorosos chicotes da frustração. Por outro lado, não é possível ir mais fundo no amor ou seja lá no que for, sem consequências. Não correr riscos é prudente, mas aí não há vida. O sonho de uma vida perfeita desaparece, Psiquê acorda, caindo numa tragédia das tarefas impostas por Afrodite, a deusa do amor.

Se você tem um objetivo, alcance-o, mas, nunca espere alcançá-lo sem esforço. Quanto mais elevada for a sua meta mais será exigido disciplina, determinação e austeridade de você. Você não está sozinho, tem as formigas que podem ajudá-lo, elas simbolizam o trabalho, tem o caniço de bambu que pode ensinar o caminho da flexibilidade, o momento propício, tem a águia, que simboliza o coração, nos momentos de desanimo, quando nos encontramos a beira do precipício e somos possuídos pelo medo, o coração, nos assopra no ouvido, “Você tem asas, pule, mergulhe, você pode voar”. Finalmente, temos a torre simbolizando o sábio, que nos encontra quando estamos preparados. Sempre disposto a nos ajudar, a nos provocar no caminho da autotranscendência, quando estamos letárgicos e prontos para nos acomodar ou desistir. A realidade e a perfeição não se avizinham. O que julgamos perfeito está em evolução. Essa história maravilhosa de um dos mitos da Grécia, talvez queira nos dizer que há algo mais além no humano e esse algo mais é a alma ou Psiquê que deve atravessar a ponte que liga o Humano ao Divino. Ligação as vezes negligenciada por terapeutas e profissionais de saúde.

Para concluir, esperando que eu não tenha me alongado mais que o necessário, temos que transcender o amor possessivo, o amor pelo poder, o amor humano, o amor do toma lá dá cá e alcançar o amor incondicional por Deus, que é próprio da alma humana, que é próprio dos Deuses.

Yogod sonha com a história de Rama

por Akrura Bogéa

Yogod viu um guerreiro vencedor, num campo de batalha, admirou a força, a determinação, a coragem e o carisma daquele guerreiro que nada temia. O nome do guerreiro era Bharata, um dos irmãos do arqueiro Rama, o melhor arqueiro que já pisou sobre a terra, atingia com suas flechas certeiras, qualquer alvo, não era atoa que o chamavam de arqueiro de Deus. Rama era muito amoroso, compassivo, benevolente, iluminado, já que ele era uma encarnação do Deus Vishnu (O Deus da manutenção), que desceu a terra para destruir um demonio chamado Ravana, que tinha seu reinado na ilha de Lanka, conhecida hoje em dia pelo nome de Sri Lanka..

Rama sería o sucessor natural do seu pai, o Rei de Ayodya, Não fosse as intrigas maquinadas por sua madastra, mãe do guerreiro Bharata. Rama se refugia na floresta com sua esposa Sita e com o seu irmão Lakshamana, no momento da partida os súditos e os nobres choram de tristeza, pois sabiam que Rama seria um Rei justo e sábio para Ayodya. Bharata, foi chamado as pressas para sentar-se no trono que pertence-ra a seu pai, que estava em idade avançada e sem condições, de carregar sobre os ombros o fardo da governabilidade de e conter as intrigas da sua côrte.

Bharata retorna do campo de batalha e nada entende, do que estava acontecendo, queriam que ele fosse o Rei de Ayodya e tudo o que ele queria, era lutar nos campos de batalhas em torno de Ayodya. Rompe com a sua mãe, que ambicionava ver seu filho no trono, provocando assim, todo mal estar que se formara. Bharata vai atras de Rama, encontra-o na floresta e suplica que o querido irmão volte e assuma o seu posto, que seria o trono de Ayodya. Rama estava tranquilo quanto à decisão de viver na floresta, diz a Bharata que está tudo bem, solicita que este retorne para assumir o trono. Bharata ajoelha-se aos pés de Rama, diz que é um guerreiro, que não saberia como governar, que não se sente capaz, que vai ser muito infeliz, já que ele é um guerreiro e que seu trono está nos campos de batalha…

-Entendi. interrompe Rama e pondera que terá que viver na floresta por 13 anos, que esse foi o pedido de seu pai, que ele irá honrrar o seu pai obedecendo-o. Tira suas próprias sandálias e coloca diante de Bharata. -Governe para mim, propõe Rama, governe por treze anos, faça o melhor governo que você puder…daqui a 13 anos retornarei e assumirei o governo. Bharata olha incrédulo dentro dos olhos do seu irmão, se enche de confiança e retorna para assumir o papel que lhe fora destinado pelas circunstâncias. Dizem que Bharata, governou por treze anos de maneira perfeita e irrepreensível. dizem também que ele colocou as sandálias do irmão Rama aos pés do trono e que jamais sentara lá.

Rama, Sita e Lakshamana chegam na floresta, constroem uma casa de madeira confortável, fazem amizade rapidamente com os pássaros e outros animais da vizinhança. Estavam muito bem, felizes, até que desafortunadamente…Ravana considerado o Rei dos demônios, estabelecido no sul da India, na ilha de Lanka. Resolve dar um passeio na sua carroagem voadora, justo na floresta onde nossos heróis viviam. Ao avistar Sita, a esposa de Rama, Ravana se apaixona, era um demônio dotado de bom gosto, já que Sita era a mais bela jovem que a India já conhecera. Esse demônio poderoso e por todos temido, resolve sequestrar Sita, com a intenção de levá-la para o seu harém em Lanka. Para termos uma idéia, Ravana o demonio em questão possuía dez cabeças, vinte braços e só de olhar para ele, muitos morriam de medo, ele era tenebroso e muito, muito feio. Não havia inimigo que não tombasse vencido aos seus pés, Ravana não temia a ninguém desse mundo ou do além.

A nossa bela princesa, cai nas inúmeras garras da fera apaixonada, ela grita por socorro em vão, se esforça por resistir, todos os pássaros e animais ouviram os gritos de pavor de Sita, nada podiam fazer. Para que seu esposo Rama, tivesse noção do trajeto do demônio, sita vai jogando suas pulseiras, anéis, tornezeleiras, contas de colares pelo chão, enquanto isso o carro de Ravana voava veloz sobre a floresta.

Uma águia muito amiga do casal, que se chamava Jatayu, segue a carruagem e tenta bicar o demonio em vão, Já que a carruagem do demonio era muito veloz e muito bem protegida. A águia corajosa, perde uma das asas cortada, pela espada afiada, venenosa de Ravana, que dá um grito no ar mostrando satisfação, enquanto a águia Jayatu cai sofrega no chão. Os que atacam Ravana, morrem logo sem perdão, foi o que a águia disse, agonizando no chão, quando Rama a encontrou caída, Rama é todo gratidão, encaminha a alma da ave, através de suas orações, a águia logo tem a percepção de que aquele que ali orava, era do Deus Vishnu encarnação, que desceu aqui na terra, para vencer os demônios, que perseguem inocentes, que tentam e atentam as almas em ascenção. O pássaro ferido, não consegue resistir, morre sereno e tranquilo, começa a subir aos céus, atravessando um véu, que a leva ao nirvana, certa de que morreu a serviço do Deus Rama, deu-lhe pistas de Sita, apontando a direção que a carruagem tomou, com Sita e o seu sequestrador. Jayatu voa veloz, no seu último voo, pousa aos pés do Deus Vishnu e se dissolve na luz.

Rama e seu querido irmão Lakshamana, vão em socorro de Sita, atravessam montanhas, vão abrindo caminho e atrás dos dois guerreiros, um exército de macacos, que sabiam muito bem, que Ravana não se entrega e não tem medo de ninguém. O entusiasmo dos macacos, contagiavam os ursos, elefantes, cobras, lagartos e tantos outros animais que não dá para enumerá-los. Quando Rama e seus amigos, chegam no extremo sul, eis que surge diante deles, uma barreira intransponivel, o imenso mar, que bloqueia o caminho, que ainda que sem querer, proteje o reinado, do demonio Ravana. Coragem Rama tem de sobra, não tem carruagem voadora, não tem barco, não tem balsa, para resgatar Sita, Rama e seu exército tem que vencer o mar, para chegar ao inimigo, que sequestrara Sita.

Enquanto isso Ravana, intenciona conseguir conquistar o amor de Sita, tenta ser paciente, tenta se acalmar, já que sua sequestrada, desde que chegou, não mais parou de chorar. Rama por sua vez, faz orações junto ao mar, para que o Deus do oceano, venha lhe ajudar. O rei do mar repousava, e quando isso acontecia, ninguém podia incomodar. As preces de Rama eram fortes, todos sabem que quando ele ora, todos podem escutar. O rei do mar se incomoda, com aquele pedido de ajudo, já que naquele momento, tudo o que ele queria era somente descansar, pede então para as suas ninfas tocarem uma canção melodiosa, que lhe pudessem ninar. Nosso principe ouve a melodia vinda do fundo do mar, mas isso não interrompe nem impede, nosso príncipe de orar.

Quando Rama percebe, que o Deus do mar não quer, as suas preces atender, saca do seu arco e flecha certeira é atirada no mar, atinge o ombro do deus do mar, que só então percebeu, que aquele que o feriu, era um Deus poderoso, sobe rápido e clama ; – Não atire grande Rama, desde já peço perdão, por eu ter ignorado, suas sinceras orações. Sou um Deus menor dos mares e agora vejo claro, que toda a criação está sob seus cuidados. Seu coração está triste, sei que Sita está em Lanka, tudo isso eu bem sei, diga o que posso fazer? devo secar o oceano? Quantos seres morrerão? Isso nem pensar, diz o rei do mar. Nossos peixes brincalhões, marinheiros, pescadores, baleias, golfinhos, sereias, não. Não posso secar o mar.

-Tem razão disse Rama, sua raiva de Ravana arrefeceu com os argumentos do Deus do mar. Deve haver outra maneira, nós temos que atravessar, minha Sita está sofrendo, não gosto nem de pensar. Enquanto assim falava, massageava o ombro do Deus do mar, que prontamente cicatrizava, ao ser completamente curado. Eis que o Deus do mar teve uma grande idéia, a de construir uma ponte dali até a ilha de Lanka, destino que Rama almejava… -Joguem pedras, galhos e tudo que puderem no mar, com os meus poderes ocultos, farei tudo flutuar.

Lakshamana então protesta, isso não dará certo, vai ser muito demorado, não podemos esperar. Rama rápido retruca, caso você não tenha, uma idéia melhor, eu concordo com você, não podemos esperar, então não esperaremos, joguemos tudo no mar, disse rama animado. Já que tudo que joguemos, está fadado a boiar, faremos uma grande ponte, vamos atravessar o mar e quando chegarmos a Lanka, lutaremos bravamente para Sita Libertar.

Os ursos, gorilas, macacos e outros tantos animais, jogavam pedras, pedaços de madeiras, todos trabalharam na ponte, do pequeno beija-flor ao gigante elefante, até mesmo um pequeno esquilo marron, lambuzava-se na terra e mergulhava no mar, para levar a terra entranhada nos seus pelos espessos. Rama vendo essa cena, encheu-se de compaixão, acolheu o esquilo na palma da sua mão.

-Meu amor e gratidão meu amigo, todos aqui serão lembrados quando a ponte estiver pronta. Acariciou o esquilo, o rastro do carinho dos dedos de Rama, ficaram impressos no dorso do pequeno esquilo, considerando sua ajuda indispensãvel, a partir desse dia, todos os esquilos do mundo, carregam as listas da mão de Rama inpressas nas costas.

Ravana por sua vez, quase morreu de rir, quando seus espiões, mencionaram o projeto de Rama, que era construir uma ponte unindo a India a Lanka. Esse Rama enlouqueceu, resmungava o demônio… -Rama morre de velhice, antes de chegar a Lanka. De onde vem tanta ousadia? Perguntava-se Ravana. No dia seguinte cedo pela manhã, a ponte feita pelo exército de Rama, tocava o porto de Lanka.

O demonio perturbado, com a ponte concluida, preferiu enfrentar Rama numa batalha sangrenta, a devolver sua prisioneira, Sita. Macacos, Elefantes, Ursos, cobras, lgartos, pássaros e Lakshamana contra o exército do mal. Ramana contra Ravana, o resultado já sabemos, Ravana e seus demonios, foram todos destruídos. Rama liberta Sita e faz da ilha de Lanka um oásis, um paraíso de felicidades. Passados treze anos, Sita e Rama se despedem, pegam a carruagem voadora, que antes pertencia a Ravana e retornam para Ayodya, onde Rama é coroado pelo seu Rei interino, seu irmão Bharata, que cuidara do Reinado, com justiça, diligência e esmero, para entregá-lo ao irmão. Nasce a idade de ouro, do reinado Sita e Rama, que todo poeta cantou, canta e cantará. Já que nesse reinado, quem sentou no trono, foi o rei do amor.

Yogod, fica enebriado com a história da India que acabara de sonhar. Admira o guerreiro Bharata, tendo que sair do campo de batalha, para assumir a função de Rei que ele nem sequer gostava. Quão beenevolente é o Deus Vishnu, que desceu à terra, para vencer Ravana num campo de batalha, ao invés de ficar lá no céu, acompanhando os acontecimentos terrenos. A entrega de Lakshamana para servir seu irmão…Yogod suspira emocionado e o seu despertador toca e Yogod acorda entre feliz e atordoado.

Fim.